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#EstudanteDestaque - Minhas mãos, meus olhos* PDF Imprimir E-mail
Seg, 10 de Agosto de 2015 13:52

 

20150810itamarapeqA falta de visão de Itamara Nicolau da Silva trouxe muitas dificuldades para a sua vida, mas nunca faltou força de vontade para seguir em frente para a jovem de 22 anos que estuda no Serviço de Atendimento Educacional Especializado (SAEDE), da EEB Marechal Luz, em Jaguaruna, na regional de Tubarão.

Itamara se forma no Ensino Médio este ano e já decidiu que no futuro quer ser professora para poder ajudar as pessoas que precisam, assim como ela foi ajudada por uma professora muito especial. A docente Susana Felipp a busca na rodoviária para levá-la até a escola e neste ano desenvolveu um projeto de por uma venda nos outros alunos para que passassem pelas dificuldades que Itamara encontra. “Eu me senti muito importante naquelas aulas e achei especial alguém olhar pra mim como qualquer aluno que precisa de ajuda. Sinto que as pessoas gostam de mim de verdade e se pudesse viveria na escola  24 horas por dia”, comenta.

A sua garra é tanta que ela mesma escreveu uma carta de 16 páginas em braile para contar a própria história, transcrita pela professora Susana. Confira o relato de Itamara.

Minhas mãos, meus olhos*

Meu nome é Itamara, tenho 22 anos e desde muito pequena já tive de enfrentar grandes obstáculos. Quando eu estava com sete meses, alguns familiares começaram a notar algo diferente em meus olhos. Após muitas consultas com vários médicos, fui diagnosticada com uma doença no fundo dos olhos que jamais poderia enxergar. À medida que fui crescendo tive de aprender a conviver com os obstáculos que surgiam diariamente pelo caminho. Foram muitos, posso até dizer que não foi nada fácil superá-los. Muitas vezes acontecia de eu estar brincando com as outras crianças e esbarrar em paredes, árvores e até em postes ou cair e me machucar. Outras vezes estas mesmas crianças me excluíam das brincadeiras. Aprendi até a andar de bicicleta. Não pude entrar na escola na idade certa.20150810itamaralivropeq

Em 2002, aos nove anos, de tanto insistir para minha família consegui ser matriculada em uma escolinha pequena, lá mesmo na comunidade onde moro. Para mim era uma grande conquista. Para uma pessoa com algum tipo de deficiência, uma escola de ensino regular não é o suficiente para alfabetizá-la, tanto que tive de ser matriculada em outra que tivesse recursos especiais para que eu pudesse ser alfabetizada, ou seja, aprender a escrever e ler em BRAILLE. Então fui para Escola de Educação Básica Marechal Luz, em Jaguaruna, que dispunha de uma sala de recursos (assim chamada na época) hoje SAEDE (Serviço de Atendimento Educacional Especializado) para alunos com algum tipo de deficiência. No início parecia difícil. Os professores sempre me incentivaram muito nos meus estudos. Em pouco tempo, eu já estava alfabetizada em BRAILLE.

Desta forma ia dando continuidade aos meus estudos. Na pequena escolinha da comunidade estudei da 1ª a 3ª série. Após este período fui estudar na escola Luiza Nicolazzi Gomes, na comunidade de Olho Dàgua. Na maioria das vezes, ficava sozinha esperando a boa vontade de alguém para me levar até a sala de aula. Então em 2009 me formei na 8ª série. Foi um dia muito especial e fui até homenageada pelos meus colegas. A primeira parte dos meus estudos estava concluída, mas o meu sonho era continuar.

Novos desafios surgiram. Por não ter transporte escolar e a falta de apoio de meus familiares, eu tive de parar de estudar. Sabendo que todas as minhas colegas continuavam estudando e eu não, isso me deixava muito triste. O tempo foi passando e eu sempre na expectativa de um dia poder retornar à escola. Três anos se passaram e contando com a ajuda de algumas pessoas no ano seguinte fui matriculada novamente na Escola Marechal Luz, no ensino regular e no SAEDE. Lá fui muito bem recebida, tanto por professores como por diretores, alunos e funcionários. Isso só fez com que a minha vontade de terminar mais uma etapa dos meus estudos aumentasse cada vez mais.

Hoje já faz dois anos que retornei à escola e graças a minha garra e aos excelentes professores que tenho, estou prestes a concluir o ensino médio. Sei que só estou aqui na escola porque a professora Susana do SAEDE vai todos os dias me buscar na rodoviária porque venho com ônibus de linha normal por não ter ônibus de estudante.

No recreio, ela me busca na sala e algumas vezes algum colega me traz. Este ano ela fez um projeto “Caminhando Juntos” de socialização para que todos os alunos fossem por algumas aulas uma pessoa com deficiência visual. Eles sentiram durante algumas aulas todas as dificuldades que enfrento no meu dia a dia. O projeto fez a turma andar pela escola vendada com um guia-vidente, pegar merenda, fazer aulas de educação física, ir ao banheiro, atravessar faixa de pedestre, etc.20150810itamara3peq

Eu me senti muito importante naquelas aulas e achei especial alguém olhar pra mim como qualquer aluno que precisa de ajuda. Hoje já não me sinto tão sozinha. Sinto que as pessoas gostam de mim de verdade e se pudesse viveria na escola 24 horas por dia. Hoje dona Susana são os meus olhos na escola. Nesse momento, o meu sonho é conseguir me formar neste ano. Independente da minha deficiência tento levar uma vida normal. Estou aqui, tenho opinião própria e sei dos meus deveres e direitos enquanto cidadã. Algumas palavras de incentivo sempre surgem ou até mesmo um simples gesto de amizade. São estas pessoas que me fazem acreditar na minha vitória.

Portanto, o que me dá força e coragem para seguir em frente é a fé que tenho em Deus, pois somente ele pode guiar os nossos passos. Acredito que com a ajuda dele conseguirei realizar todos os meus sonhos e assim um dia poderei ter uma nova história de vida para contar.

 

*Essa história foi escrita em BRAILLE pela própria aluna e adaptada pela professora Susana, do SAEDE.

 

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